Foto: Lucas Figueiredo / CBF
Bom de Bola, com William Tales SilvaColunistas

Campeonato Brasileiro ainda é relevante para a seleção

Depois dessas quartas de final da Copa do Brasil, (quase) todo o país se uniu em um mesmo coro pela convocação de Pedro à seleção. O atacante flamenguista impressionou a todos nessa quarta-feira (17) ao marcar um golaço de bicicleta contra o Athletico Paranaense, garantindo a classificação de sua equipe às semifinais da competição. Esse foi o 20º gol do centroavante na temporada, em 45 jogos.

As boas atuações e os bons números o colocaram como forte candidato a uma das 26 vagas na Copa do Mundo do Catar. Tanto é que o técnico Tite admitiu, em entrevista à rádio Itatiaia, que a convocação “é bastante provável”. Quem conhece a linha de raciocínio do treinador sabe que essa convocação viria naturalmente a partir do momento que Pedro ganhasse mais minutos no Flamengo.

O camisa 21 do rubro-negro tem as características de um “centroavante clássico”, e esse perfil de atacante está em falta na seleção. Pedro tem bom jogo aéreo, bom posicionamento na área e capacidade de definição em poucos toques na bola. O suficiente para estar na lista de selecionáveis para o Catar.

Com apoio da mídia, da torcida e até do treinador, a presença de Pedro na Copa de 2022 é quase certa. Dito isso, o quão relevante seria o atacante no Catar? Estamos falando de uma grande mobilização nacional em torno de um jogador de pouca minutagem com a camisa da seleção e que, como já foi dito abertamente pelo Tite, seria útil para momentos pontuais, como para enfrentar defesas muito fechadas.

Não trago esse contraponto a fim de desmerecer o Pedro. Muito pelo contrário. Endosso a lista daqueles que pedem sua convocação e acredito que ele pode ser decisivo em jogos truncados de fase de grupos ou oitavas de final, principalmente. Trago esse contraponto como um questionamento: não estamos nos contentando com pouco?

Em 1998 e 2002, o clamor nacional era pela convocação de Romário. Um protagonista, que, na época, vestia as cores do Flamengo e do Vasco, respectivamente. Em 2010, pedíamos Neymar e Ganso. Os meninos da Vila seriam importantes coadjuvantes para uma seleção com poucas opções no banco de reservas. Hoje, pedimos o Pedro. Um grande jogador, com potencial para virar ídolo no Flamengo, mas que pode terminar a Copa do Mundo sem entrar em campo, desde que não nos compliquemos contra defesas fechadas.

No pós-penta tivemos 13 convocações de jogadores que atuavam no Brasileirão, sendo que quatro deles eram goleiros reservas. Entre os selecionados, Mineiro (2006), Victor (2014), Jefferson (2014), Geromel (2018) e Cássio (2018) sequer atuaram. 

Os oito que conseguiram entrar em campo se dividem entre os que tiveram menos de dez minutos de jogo, como Rogério Ceni (2006), Ricardinho (2006) e Kleberson (2010), os coadjuvantes, como Gilberto (33′ em 2010) e Jô (168′ em 2014), e os protagonistas, como Robinho (2010), Fred (2014) e Fágner (2018).

Nesse trio de atletas com boa minutagem, temos três campanhas bem distintas nos mundiais. Fred foi uma grande decepção, com apenas um gol marcado. Saiu da Copa com o apelido de “cone” e depois sumiu do radar da seleção. Já Fágner foi convocado para ser o reserva de Danilo, mas ganhou a vaga após uma lesão do titular. Presente em quatro dos cinco jogos da seleção na Rússia, Fágner teve mais momentos bons que ruins, mas passou longe de ser uma unanimidade. 

O melhor deles, com certeza, foi Robinho. Com dois gols na África do Sul, o atacante, que estava no Santos por empréstimo junto ao Manchester City, foi peça importante do ataque de Dunga. 

Em 2002, tínhamos Marcos e Kleberson como representantes do Brasileirão no time titular de Felipão. No banco, estavam outros dez, alguns importantes naquela campanha do título, como Gilberto Silva e Luizão.

A perda de relevância do Brasileirão tem mil e um motivos, mas também explica parte da perda do encantamento que muitos um dia nutriram pela seleção. Ter apenas atletas europeus como representantes gera um distanciamento que, infelizmente, parece irreversível. O país do futebol vive uma crise de identidade.

  • William Tales Silva, Jornalista. Repórter de esportes da TV Band Bahia. Autor do livro “[VAR] – A história e os impactos da maior mudança na aplicação das regras do futebol”, o primeiro sobre o árbitro de vídeo no Brasil, pela editora Footbooks/Corner. Já foi apresentador do Jogo Aberto da BandNews FM Salvador e teve oportunidades como apresentador do Jogo Aberto Bahia e comentarista da Série C do Brasileirão na TV Band Bahia.
por William Tales Silva
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