Foto: Gilvan de Souza / CRF
Bom de Bola, com William Tales SilvaColunistas

Everton Ribeiro e o despertar da profecia tricolor

Em 23 de setembro de 2022, o projeto da SAF do Bahia em parceria com o Grupo City foi apresentado aos conselheiros do esquadrão na Arena Fonte Nova. O evento contou a presença do CEO do conglomerado, Ferran Soriano, que, entre cifras impressionantes e promessas animadoras, deixou um recado: “precisamos fazer com que o Bahia seja odiado. Quando o time estiver competitivo, não terão simpatia pelo Bahia”. Pouco mais de um ano depois, a profecia começa a se cumprir.

O primeiro passo para esse objetivo foi concluído com a permanência de Cauly, que foi tratado como prioridade para o Palmeiras nessa janela de transferências. Logo na primeira oferta, o alviverde quase dobrou o investimento feito pelo tricolor na contratação do meia, junto ao Ludogorets, da Bulgária. Foram oferecidos quase R$ 24 milhões pelo jogador, que custou cerca de R$ 13 milhões aos cofres do esquadrão. Em outros tempos, o acordo era certo.

Outros tempos. Hoje, o Bahia quer R$ 269 milhões para vender o camisa oito. Eu, você, Ceni, Ferran, Abel Ferreira e Leila Pereira sabemos muito bem que Cauly, por melhor que seja, não vale esse dinheiro. Afinal, para efeito de comparação, nem mesmo a venda de Vinícius Júnior para o Real Madrid chegou a essas cifras (R$ 164 milhões, na época). Mas, de hoje em diante, para tirar um craque do esquadrão só assim: pagando a multa rescisória. Biel também recebeu propostas interessantes, mas permaneceu. A negativa tricolor foi tão enfática, suponho, que a tratativa até demorou para chegar ao conhecimento dos setoristas.

Se a permanência de Cauly já deixou muitos cotovelos doloridos Brasil afora, faltava apenas uma grande contratação para despertar, de vez, a profecia de Ferran Soriano. E ela veio. Ou melhor, ainda está vindo. O meia Everton Ribeiro, ídolo de Flamengo e Cruzeiro, deve assinar com o Bahia ainda nesta quarta-feira, após semanas de conversas e sondagens de diversos clubes da Série A. O Flamengo tentou renovar, o Cruzeiro quis repatriar, o São Paulo monitorou, o Corinthians sonhou, mas o bicampeão da Libertadores e convocado para a última Copa do Mundo preferiu o esquadrão.

Motivos não faltam. Financeiramente, segundo as especulações, o tricolor ofereceu um salário 30% maior do que o Flamengo, com dois anos de contrato. Esportivamente, o Bahia é “a melhor oportunidade de trabalho no país”, como disse Rogério Ceni em sua coletiva de apresentação. Dívidas zeradas, associado ao Grupo City, que é o maior player nesse novo mercado de aquisição e administração de clubes, jogando em uma Arena impecável, com uma torcida apaixonada que colocou mais de 1 milhão de pessoas nas arquibancadas em 2023 e com metas ousadas (e factíveis) para um futuro próximo. Com todas essas cartas na mesa, um papel e uma caneta na mão, você não assinaria?

Everton assinou – ou vai, muito em breve. Foi o bastante para inundar as redes sociais com a indignação dos preteridos: “não é possível que você vai para o Bahia”, “vai ser engraçado ver você jogando a Série B em 2025”, “você enlouqueceu???”, “Bahia???” e “faz isso com sua carreira não, elenco lá é muito limitado, camisa fraca” foram apenas alguns dos comentários mais respeitosos que encontrei. Ignorância – ou preconceito, talvez. 

Acostumem-se: o Bahia não é mais o mesmo. Um bom retrato disso se vê na comparação do investimento feito pela SAF tricolor e pela associação, antes da chegada do Grupo City. Em pouco mais de um ano, o “Bahia SAF” já investiu quase R$ 160 milhões de reais na contratação de jogadores. Já enquanto associação, desde a criação do Plano Real, em 1994, até o acordo com o Grupo City, no fim de 2022, investiu – contabilizando apenas as transferências com valores revelados – cerca de um terço desse montante. 

O ótimo levantamento trazido pelo @ECBahiaNumeros é a resposta definitiva sobre o novo momento do esquadrão. Só não vê a mudança quem não quer. Dentro de campo, esses grandes investimentos podem até demorar um pouco para se traduzir em triunfos e conquistas, mas, nos bastidores, o Bahia já é e já merece ser visto como um protagonista no futebol brasileiro. 

por William Tales Silva
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