Foto: Lucas Uebel / Grêmio
Bom de Bola, com William Tales SilvaColunistas

15 a 1: Grêmio empata com o ABC e aumenta massacre do Pote Um

Seguindo com o pé na estrada, a parada desta quinta-feira (27) foi na Arena do Grêmio, para descobrir quem seria o último classificado para as oitavas da Copa do Brasil. Depois de aplicar 2 a 0 sobre o ABC na ida, o tricolor gaúcho tinha um cenário confortável em busca da vaga.

E mesmo com a classificação bem encaminhada, quase 20 mil torcedores foram à Arena para apoiar o Imortal. Uma bela festa para um futebol pobre. Como disse o próprio técnico Renato Portaluppi após o jogo, “foi a pior atuação do Grêmio sob o meu comando. Alguns jogadores sentaram no placar. Deu tudo errado”.

O Grêmio teve muito mais volume de jogo, mais posse de bola, mais finalizações, mas não conseguiu ser realmente perigoso, tendo apenas uma grande chance na partida – que foi desperdiçada. Já o ABC, mesmo com seis mudanças no time, mostrou solidez defensiva, concentração nas divididas e foi arisco nas poucas vezes que subiu pro ataque, abrindo o placar ainda no primeiro tempo, com Matheus Anjos.

O segundo gol, que levaria a decisão para os pênaltis, quase veio no segundo tempo, mas Felipe Garcia bateu no travessão. Logo depois, Galdino empatou o jogo e carimbou a classificação gremista. Dessa forma, o tricolor gaúcho se tornou o 15° time da Série A a garantir vaga nas oitavas de final deste ano. Um número recorde para a Copa do Brasil, que só havia sido tão elitizada assim em 1996, há vinte e sete anos, quando também teve quinze times da primeira divisão nas oitavas.

Atualmente, não há dúvidas sobre quem é o responsável por esse extermínio de zebras. Com um sistema de divisão de potes baseado no ranking da CBF, o sorteio transformou as oitavas de final da Copa do Brasil num ambiente hostil para esse animalzinho outrora tão querido pela competição.

Clubes como Criciúma, Juventude, Santo André, Paulista e Sport já ergueram essa taça e, hoje, são sistematicamente prejudicados pelo torneio, o que torna ainda mais louvável a classificação do Sport como único time da Série B nas oitavas deste ano. No ano passado, apenas dois times de fora da elite chegaram tão longe. E, seguindo nesse ritmo, não vai demorar para termos todas as vagas das oitavas distribuídas na primeira divisão.

Portanto, a primeira correção a ser feita é acabar com a divisão de potes nos sorteios – não só nessa, como em todas as fases da competição. Mas não para por aí. Precisamos nos recordar da essência da Copa do Brasil e das competições de mata-mata de modo geral, que é dar sorte ao azar. Abraçar o improvável. Deixar o acaso (des)proteger quem ele quiser. Para premiar a regularidade já temos o Brasileirão com sua maratona de 38 rodadas. 

Sendo assim, nada mais justo que acabar também com a ida e volta da Copa do Brasil e implantar confrontos em jogo único, como já ocorre em boa parte das copas nacionais dos principais países europeus. Foi isso que possibilitou títulos como os do RB Leipzig, na Alemanha, do Real Betis, na Espanha e do Leicester, na Inglaterra. Todos conquistados nos últimos dois anos. Para preservar a festa das torcidas, porém, caberia a manutenção dos dois jogos apenas para a final.

Também é importante pensar em uma melhor distribuição da fortuna oferecida pela competição, hoje muito concentrada nas fases decisivas. Enfim, muitas mudanças são necessárias para devolver o título de “torneio mais democrático do país” à Copa do Brasil, que de uns tempos para cá mais se parece uma “Copa da Série A”.

  • William Tales Silva, Jornalista. Repórter de esportes da TV Band Bahia. Autor do livro “[VAR] – A história e os impactos da maior mudança na aplicação das regras do futebol”, o primeiro sobre o árbitro de vídeo no Brasil, pela editora Footbooks/Corner. Já foi apresentador do Jogo Aberto da BandNews FM Salvador e teve oportunidades como apresentador do Jogo Aberto Bahia e comentarista da Série C do Brasileirão na TV Band Bahia.
por William Tales Silva
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