Intensidade equatoriana estragou a festa no Catar
Está dada a largada para a Copa do Mundo de 2022 com uma merecidíssima vitória do Equador sobre o Catar. Pela primeira vez na história dos mundiais a anfitriã perde no jogo de abertura. Muito desse placar passou pela diferença nos índices de PPDA das duas equipes, que já despertava curiosidade antes mesmo da bola rolar.
Em português, essa sigla significa “passes por ação defensiva” e é um bom medidor da intensidade de jogo de uma equipe, dando uma métrica para avaliar quantos passes uma equipe permite que o seu adversário dê até realizar uma ação defensiva (interceptações, desarmes e faltas, por exemplo) bem sucedida ou não.
Por coincidência, o jogo de abertura reuniu duas equipes que lidam com essa estatística de formas bem diferentes. O Equador teve o melhor PPDA das eliminatórias sul-americanas, com 8,15 passes permitidos por ação defensiva, enquanto o Catar vinha para a Copa como dono do pior PPDA entre as 32 seleções, permitindo 14,43 passes.
Toda decisão em campo em campo tem prós e contras. Apertar muito pode dificultar a criação do adversário, mas costuma gerar desgaste físico e desencaixes de marcação que podem deixar o time exposto contra equipes que saibam tocar em velocidade. Já a marcação mais frouxa pode ser útil para um time que prefere atrair o adversário para recuperar bolas perto do seu próprio gol explorando as jogadas mais diretas. Já sabemos qual filosofia trouxe mais resultado no domingo.
Normalmente, esse índice mede apenas as trocas de passes no campo de ataque, mas fazendo a conta de campo inteiro a grosso modo nesse jogo de abertura chegamos aos seguintes números: o Equador permitiu apenas 8,84 passes do Catar até realizar uma ação defensiva, enquanto os donos da casa esperaram 16,36 passes equatorianos para tentar o bote. Essa diferença de intensidade foi amplamente percebida ao longo da partida.
A começar pelo fator psicológico. A pressão equatoriana atordoou o time de Félix Sánchez, que muito rapidamente abdicou do estilo de jogo padrão, com jogadas trabalhadas e inversões no campo de ataque. Na verdade, o Catar sequer atacou no primeiro tempo, tendo tocado na bola dentro da grande área adversária apenas aos 50 minutos de jogo.Com o resultado quase definido, o Equador tirou o pé na segunda etapa e a partida perdeu muito em emoção. Em resumo, foi uma estreia decepcionante, com apenas 11 chutes somados das duas equipes, o menor número em um jogo de Copa desde 1966. A boa notícia é que a partir de agora só dá para melhorar – pelo menos é isso que esperamos.
- William Tales Silva, Jornalista. Repórter de esportes da TV Band Bahia. Autor do livro “[VAR] – A história e os impactos da maior mudança na aplicação das regras do futebol”, o primeiro sobre o árbitro de vídeo no Brasil, pela editora Footbooks/Corner. Já foi apresentador do Jogo Aberto da BandNews FM Salvador e teve oportunidades como apresentador do Jogo Aberto Bahia e comentarista da Série C do Brasileirão na TV Band Bahia.
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