Foto: Band Bahia
ColunistasEsse é o Ponto, com Victor Pinto

Coronel estica a corda e testa a paciência do grupo

A fala do senador Angelo Coronel (PSD-BA) comparando o PT ao conceito de “raça pura” do nazismo, além de politicamente desastrosa, expõe a escalada calculada de tensão que o parlamentar tem promovido dentro da base governista baiana. Mesmo afirmando posteriormente que foi mal interpretado, Coronel sabia exatamente o peso de suas palavras. E, mais ainda, sabia aonde queria chegar.

As reações do senador Jaques Wagner e do governador Jerônimo Rodrigues, líderes incontestáveis do PT na Bahia, foram firmes, mas medidas. Wagner considerou a fala “infeliz e absolutamente fora do tom político”. Já Jerônimo, cauteloso, lamentou o episódio e pediu “serenidade”. Em comum, ambos demonstraram que entenderam o real recado, no meu entendimento: Coronel quer forçar uma ruptura.

O senador tem esticado a corda faz tempo. Desde a movimentação interna para viabilizar o nome do filho, Angelo Coronel Filho, na Assembleia Legislativa, passando pelas críticas ao protagonismo do PT na chapa de 2026, Coronel vem buscando uma narrativa de vítima para justificar, no futuro, sua eventual saída do grupo liderado por Wagner e Jerônimo.

A comparação feita, ainda que “em tom de crítica política”, segundo ele próprio tentou justificar, foi profundamente infeliz, parafraseando o senador petista. Trazer para o debate político cotidiano um termo associado a uma das maiores tragédias humanas da história ultrapassa os limites aceitáveis, convenhamos. Se a intenção era gerar impacto, conseguiu. Se era construir um argumento consistente contra o domínio petista, não acho que vingou.

A fala de Coronel escancara o desconforto dentro da base governista. A montagem de uma chapa majoritária fortemente petista, com Jerônimo Rodrigues à reeleição e Jaques Wagner e Rui Costa para o Senado, acendeu o alerta nos aliados. O PSD, maior partido em número de prefeitos na Bahia, sente-se preterido nas conversas de bastidores. Coronel apenas verbalizou, de forma desastrada, um incômodo que outros silenciosamente compartilham. Há quem diga que recebeu de alguns medrosos que não buscam se expor algumas ligações o parabenizando pela coragem.

Ao tentar justificar que foi mal interpretado, o senador Coronel subestima a inteligência política dos seus interlocutores. Todos entenderam o recado. Foi uma cartada para gerar desgaste, para sair como vítima da “intolerância petista”, e para criar o ambiente necessário para, quem sabe, um rompimento planejado. Se a narrativa colar junto à sua base eleitoral, Coronel poderá pavimentar um novo caminho sem arcar com o ônus de ser visto como traidor.

O que se observa é que o pessedista, pelo visto, não quer apenas tensionar. Quer brigar para sair. E, se possível, sair atirando, posicionado como o injustiçado. Muitos tem o subestimado. Certa feita, numa edição do Boa Tarde Bahia, da Band, eu, Luís Filipe Veloso, Maurício Leiro e professor Cláudio André concordamos com algo: não se deve subestimar Coronel, mesmo diante de algumas trapalhadas. Sua trajetória política mostra isso. 

No fim das contas, o episódio mostra um certo processo de desgaste no tabuleiro político baiano na seara governista. Normal, mas se conduzido a revelia pode ser desastroso. Resta saber quem terá a habilidade de sobreviver a ele sem perder o rumo. A conferir.

por Victor Pinto
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